sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sem conserto

Veja - 25/04/2011

Após mais de meio século transformando a ilha caribenha em um inferno moral e material,os irmãos Castro reconhecem que o comunismo não funciona nem em Cuba.

Os carros dos anos 50 são um dos principais componentes exóticos de Havana, capital de Cuba. É necessária a autorização do estado para colocar um motor mais moderno nessas latas-velhas, o que só se consegue subornando alguém. Por isso, quando não há mais conserto, os veículos acabam abandonados em uma rua qualquer. São a metáfora perfeita do país. Durante as últimas cinco décadas, Cuba foi dirigida como uma fazenda por seu capataz, Fidel Castro, e, mais recentemente, por seu irmão Raúl. Apesar de um reparo ou outro na mecânica da economia, sem sucesso, eles nunca fizeram o que era preciso para o país avançar: jogar fora os fundamentos comunistas, abolindo o monopólio estatal e a proibição de propriedade privada. Na semana passada, no encerramento do 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba, Raúl foi oficializado como primeiro-secretário no lugar de Fidel, de 84 anos. O herdeiro da massa falida admitiu, finalmente, que o comunismo não funciona, nem mesmo em uma ilha paradisíaca do Caribe. Mas admitir o fracasso não significa muito para os ditadores cubanos.

Entre as medidas cosméticas anunciadas por Raúl no ano passado e confirmadas no congresso do partido estão a demissão de meio milhão de funcionários públicos e o fim do subsídio para alimentos e produtos de higiene. Ou seja, rompe-se o fiapo de sobrevivência garantido pelo estado à maioria dos cubanos, os 20 dólares mensais pagos nos empregos estatais e o cartão de subsídio. "Sem os benefícios e sem a chance de prosperarem livremente segundo as regras do capitalismo, os cubanos estão sendo agraciados só com o que há de pior no socialismo, sem contrapartidas", diz o cientista político cubano.

Humberto Fontova, exilado nos Estados Unidos. Mais do que nunca, os habitantes da ilha sobreviverão das remessas de dólares de seus familiares que conseguiram escapar da tirania de Fidel e Raúl e se estabelecer nos Estados Unidos. Como dizem os cubanos, que, como poucos, sabem rir da própria desgraçà, para viver em Cuba é preciso ter "FE" - Família no Exterior.

O fim da melancólica experiência de dominação dos irmãos Castro não é surpresa. Em 1962, três anos depois do triunfo da Revolução Cubana, quando se começaram a medir as agruras a que ( os "menos iguais" da ilha eram submetidos pelos "mais iguais", a porção média de carne e feijão no praro dos cubanos sob o regime comunista era apenas um quarto da que os escravos ingeriam em 1842, ao tempo em que a ilha era colônia espanhola. Pelo menos os escravos podiam pescar na vasta e generosa costa da ilha caribenha - atividade popular suprimida pela ditadura castrista pelo motivo óbvio de que os barcos prefeririam escapar da prisão cruzando os 150 quilômetros de extensão do Estreito da Flórida a fisgar algum peixe.

Nos anos 50, antes dos Castro. Cuba tinha uma das maiores rendas per capita da América Latina e era mais próspera do que a Espanha e a Áustria. Os cubanos possuíam mais automóveis, em proporção à população, do que os japoneses e a menor mortalidade infantil da América Latina. Em poucos anos, as comodidades tornaram-se privilégio apenas dos Castro, da elite governante e dos embasbacados convidados estrangeiros. Para os cubanos pobres, a cada ano se renovavam as demandas de mais sacrifício e luta. A fome e a miséria material e moral impostas à população poderiam ter sido ainda mais cruéis não fosse o faro de que, até ruir sob suas próprias contradições, em 1991, a União Soviética tentou em vão viabilizar o experimento ditatorial castrista com injeções de dinheiro equivalentes a oito Planos Marshall- a ajuda de 13 bilhões de dólares dada pelos Estados Unid os para reerguer a Europa depois da TI Guerra Mundial. Quanto sofrimento por nada.

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